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As consequências da pandemia mundial de coronavírus na indústria da música eletrônica em 2020

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Eventos cancelados e postergados, viagens que não irão mais acontecer, sonhos e planos levados pelo vento. Tudo isso está acontecendo com os amantes de música eletrônica hoje no Brasil e no mundo. Sim, são as consequências devastadoras da pandemia do Coronavírus e a imposição necessária de isolamento social. Mas até que ponto isso está impactando a indústria do entretenimento?

Nas últimas semanas, pudemos ver uma mudança na maneira de consumo de música. A realização de apresentações ao vivo online ganhou a internet e invadiu a casa de milhares de fãs por todo Brasil e mundo afora. As ferramentas todas já existiam para nós, mas não eram utilizadas com esse intuito e frequência. De maneira surpreendente, DJs e eventos se adaptaram rapidamente para entregar conteúdos exclusivos e diferenciados para as pessoas em casa.

Não queremos mesmo fazer qualquer tipo de comparação entre tudo isso que está sendo criado online e a verdadeira experiência ao vivo de um festival ou evento. É óbvio que poder sentir a energia das pessoas, compartilhar abraços e sorrisos com os amigos, vibrar com cada track sendo tocada ali naquele lugar tão especial são coisas únicas e insubstituíveis. Mas nós do Play BPM queremos analisar tudo isso mais a fundo. Vamos mostrar agora alguns fatores que com certeza mudaram 2020, a maneira como a nossa indústria de música eletrônica funciona e como ela está sendo impactada por tudo isso.

Primeiramente, todos sabemos da importância que a Miami Music Week e o Ultra Music Festival de Miami têm no mercado. Mas vai além de somente festas. É o início da temporada de festivais no mundo, em que todos os DJs preparam suas novas tracks (produzidas durante o inverno no hemisfério norte), e tudo isso é apresentado para o mundo, ditando o tom de como cada artista irá se apresentar durante o ano. Portanto, o não acontecimento desses eventos criou um vazio nessa dinâmica. Um vácuo que foi preenchido com LIVEs nas redes sociais, mas que não geram o material de vídeo e o buzz que a MMW e o UMF gerariam.

Assim como peças de um dominó, o Ultra caiu, derrubando todos os outros festivais alinhados à sua frente, o que nos leva ao segundo ponto a ser analisado. Lollapalooza em diversas cidades, Tomorrowland Winter, Coachella, EDC Las Vegas, Burning Man, entre muitos outros festivais menores, e agora, pelo o que tudo indica, o inevitável: o cancelamento ou postergamento do Tomorrowland na Bélgica (ainda que não confirmado oficialmente). A temporada de aberturas de clubes em Ibiza, com as festas maravilhosas e seus hosts semanais também está paralisada. Ou seja, tudo isso desencadeou um efeito cascata de consequências ainda imensuráveis economicamente.

Não vamos entrar nos méritos de certo ou errado, de justo ou injusto, mas sim analisar as consequências disso tudo. Pois muitos pensam somente no “ah, justo esse festival que eu já tinha garantido meus ingressos”. Infelizmente, as consequências impactam muito mais do que a frustração das pessoas que viveriam momentos mágicos e inesquecíveis em algum festival pelo mundo. E isso nos leva ao terceiro ponto.

Como vocês sabem, para se produzir um festival, milhares de pessoas são envolvidas. Desde fornecedores técnicos, de luz e som, de comida, staff, assessorias de imprensa, DJs, fotógrafos, videomakers, todas as equipes dos DJs, hotéis e airbnb’s, companhias aéreas, agências de viagens, traslados, táxis, ubers, e a lista não termina. DJs sem os cachês não pagam seus prestadores de serviços, donos de eventos a mesma coisa, e isso desencadeia em perdas para muitas pessoas. Toda a indústria sofre e esses danos irão demorar para serem reparados.

É claro que achamos válido e muito significante o que os artistas vem fazendo nos últimos dias com as LIVEs de sets maravilhosos, realmente criando uma conexão diferente e única com cada pessoa. Mas tudo isso não resolve, nem minimiza as perdas que a indústria está sofrendo como um todo. Sim, é hora de se adaptar para não perder visibilidade, para estar presente mesmo sem os eventos. Nesse sentido, além das LIVEs dos DJs em suas casas, vemos um crescimento também de diversos “Festivais Online”, onde vários DJs se apresentam um seguido do outro para criarem a sensação de múltiplas apresentações em um mesmo local.

Dentro de tudo isso, só nos resta compreender toda essa nova fase, respeitar as diretrizes de distanciamento social, para que em breve possamos estar todos juntos pulando e gritando em uma só voz, na pista, se abraçando, sorrindo e dando mais valor a vida. Todos os acontecimentos, bons ou ruins, merecem ser analisados, e com eles, um novo aprendizado. Entendemos que o ano de 2020 não aconteceu como planejávamos e que as ações de todos os membros da indústria de música eletrônica não aconteceram como de praxe.

Podemos falar sim em um “ano perdido” para nosso mercado, mas somente se compararmos com o “status quo” que era seguido anteriormente. Nós do Play BPM preferimos pensar que essa foi uma mudança forçada e que novas diretrizes estão sendo traçadas para um novo futuro. Não estamos dizendo que será assim pra sempre, mas que essas dificuldades impostas a nós nessas últimas semanas irão transformar a maneira como pensamos e agimos em relação às coisas, além de modificar os padrões de consumo.

É hora de sentar e refletir sobre tudo isso. E pensar como vamos tirar o máximo de proveito dadas as circunstâncias impostas. Diversos DJs e donos de eventos entenderam o recado, e muitos fãs e espectadores estão contribuindo da maneira que podem. Apoiando os artistas, assistindo as lives, comentando nas redes, compartilhando os conteúdos. Escutar as tracks nas plataformas de Streaming e comprar o merchandise dos artistas ajuda a manter o caixa deles ativo, já que não estão mais recebendo por shows e turnês. Mais amor e menos egoísmo. Mais solidariedade, menos “haters”. Para que quando voltemos a realidade da proximidade social, que nossas reações sejam melhores, mais humanas. Dessa forma, vamos construir um mundo melhor e ajudar na reconstrução da indústria do entretenimento como um todo.

Fica aqui também registrado nosso positivismo quanto ao segundo semestre de 2020. Acreditamos que com a normalização das coisas e os resultados do isolamento social imposto no mundo todo, possamos reerguer a indústria dos eventos e festivais. Será um semestre intenso, cheio de eventos remarcados, em que poderemos usar e abusar da música eletrônica ao vivo. Esperamos também que seja mantida a maior conferência da nossa indústria na capital da Holanda, o Amsterdam Dance Event, para que lá, juntos, possamos pensar, discutir e fortalecer ainda mais nosso mercado. Lembrando que esse evento é ímpar dentro do calendário anual, onde se conclui os projetos feitos até então e se criam novas ideias para o ano seguinte. Assim, ele é algo imprescindível para o futuro da nossa cena em 2021.

Portanto, fique em casa e aproveite os conteúdos incríveis que nossos artistas e eventos favoritos estão disponibilizando todos os dias, e de graça!